sexta-feira, 19 de novembro de 2010
100 anos de Noel Rosa
O mundo me condena, e ninguém tem pena
Falando sempre mal do meu nome
Deixando de saber se eu vou morrer de sede
Ou se vou morrer de fome
Mas a filosofia hoje me auxilia
A viver indiferente assim
Nesta prontidão sem fim
Vou fingindo que sou rico
Pra ninguém zombar de mim
Não me incomodo que você me diga
Que a sociedade é minha inimiga
Pois cantando neste mundo
Vivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo
Quanto a você da aristocracia
Que tem dinheiro, mas não compra alegria
Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente
Que cultiva hipocrisia
(Filosofia - Noel Rosa)
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Flores de Amsterdã
As mulheres mais lindas do mundo
E eu lembrando da minha
Como pode um amor ir mais fundo no meu coração?
Quanto mais uma loura me olhava
Eu mais, minha neguinha,
Te lembrava e dizia "D'ocê eu num largo mais não"
Mais levava tua foto apertada em meu peito praieiroMais inteiro me via e pra Santa fazia oração
Que quem guia, guiasse
Quem reza, rezasse
Quem fala, falasse
Ou cantasse com a voz cirandeira
Que quem toca, tocasse
Quem chora, chorasse
Quem cala, calasse
E ouvisse e eu soubesse alemão
Que um xodó lindo assim como o nosso
Fosse a vida inteira
Fosse além desse mundo de barro
Cabasse mais não
Crie filhos e forças e rumos
Parasse mais não
Fosse além desse mundo de barro
Quebrasse mais não
Flores de Amsterdã
Beijos de hortelã
Para minha neguinha
Tarde, noite e manhã
Corpo e mente sã
Para minha neguinha
(Lui Coimbra)
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Amando Loucamente
Andei amando loucamente, como há muito tempo não acontecia. De repente a coisa começou a desacontecer. Bebi, chorei, ouvi Maria Bethânia, fumei demais, tive insônia e excesso de sono, falta de apetite e apetite em excesso, vaguei pelas madrugadas, escrevi poemas (juro). Agora está passando: um band-aid no coração, um sorriso nos lábios e tudo bem. Ou: que se há de fazer.
(Caio Fernando Abreu)
sábado, 18 de setembro de 2010
Aflição

Aflição de ser eu e não ser outra.
sábado, 11 de setembro de 2010
Vida dentro de nós
sábado, 4 de setembro de 2010
Valsa das Primaveras (Lavalse de Lilas)

Só por essas poucas páginas de dor
Mas enquanto houver a primavera e o amor
Veste a primavera, a primavera e vem
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Planet Copacabana

Aqui nesse planeta bem pertinho do mar
Eu sou do Planet Copacabana, ah
Eu sou do Planet Copacabana, ah
Copacabana
Eu sou do Planet Copacabana, ah
Eu sou do Planet Copacabana, ah
Copacabana
Mas aqui nesse planeta bem pertinho do mar
Aqui no Planet, no Planet Copacabana, ah
Aqui no Planet, no Planet Copacabana...
sábado, 21 de agosto de 2010
Tempo de Travessia
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Viver é correr o risco
Estender a mão é correr o risco de se envolver.
Expor seus sentimentos é correr o risco de mostrar seu verdadeiro eu.
Defender seus sonhos e idéias diante da multidão é correr o risco de perder as pessoas.
Amar é correr o risco de não ser correspondido.
Viver é correr o risco de morrer.
Confiar é correr o risco de se decepcionar.
Tentar é correr o risco de fracassar.
Mas os riscos devem ser corridos, porque o maior perigo é não arriscar nada.
Há pessoas que não correm nenhum risco, não fazem nada, não têm nada e não são nada.
Elas podem até evitar sofrimentos e desilusões, mas elas não conseguem nada, não sentem nada, não mudam, não crescem, não amam, não vivem.
Acorrentadas por suas atitudes, elas viram escravas, privam-se de sua liberdade. Somente a pessoa que corre riscos é livre!
Seneca (orador romano)
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Capitu

De um lado vem você com seu jeitinho
Hábil, hábil, hábil
E pronto!
Me conquista com seu dom
De outro esse seu site petulante
www
Ponto
Poderosa ponto com
É esse o seu modo de ser ambíguo
Sábio, sábio
E todo encanto
Canto, canto
Raposa e sereia da terra e do mar
Na tela e no ar
Você é virtualmente amada amante
Você real é ainda mais tocante
Não há quem não se encante
Um método de agir que é tão astuto
Com jeitinho alcança tudo, tudo, tudo
É só se entregar, é não resistir, é capitular
Capitu
A ressaca dos mares
A sereia do sul
Captando os olhares
Nosso totem tabu
A mulher em milhares
Capitu
No site o seu poder provoca o ócio, o ócio
Um passo para o vício, o vício
É só navegar, é só te seguir, e então naufragar
Capitu
Feminino com arte
A traição atraente
Um capítulo à parte
Quase vírus ardente
Imperando no site
Capitu
(Luiz Tatit)
Nestrovski, Tatit & Wisnik - Capitu
Capitu (Luiz Tatit)
Músicos: Luiz Tatit (violão e voz), Zé Miguel Wisnik (piano e voz)
Arthur Nestrovski (violão), Celso Sim (voz) , Jonas Tatit (violão 7 cordas)
Sérgio Reze (bateria e percussão), Marcelo Jeneci (teclado e sanfona) e Márcio Arantes (contrabaixo)
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Extremos da Paixão

sábado, 31 de julho de 2010
Vem lutar comigo num corpo a corpo

quinta-feira, 29 de julho de 2010
Dedicado a Você

Se eu tiver você no meu prazer
Se pudesse ficar com você
Todo o momento, em qualquer lugar
Ah!
Se no desejo você fosse o amor
Durante o frio fosse o calor
Na minha lua, você fosse o mar
Vem, meu coração se enfeitou de céu
Se embebedou na luz do teu olhar
Queria tanto ter você aqui!
Ah! Se teu amor fosse igual ao meu
Minha paixão ia brilhar, e eu
Completamente ia ser feliz!
(Dominguinhos e Nando Cordel)
domingo, 11 de julho de 2010
Sou música alta e silêncio
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sábado, 26 de junho de 2010
Igual - Desigual

Todas as histórias em quadrinhos são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são iguais.
Todos os partidos políticos são iguais
Todas as mulheres que andam na moda são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais.
E todos, todos os poemas em versos livres são enfadonhamente iguais.
Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores iguais, iguais, iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa.
Ninguém é igual a ninguém.
Todo o ser humano é um estranho
Impar.
(Carlos Drummond de Andrade)
quinta-feira, 17 de junho de 2010
O Meu Amor
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Eu sou sua menina, viu?
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Eu sou sua menina, viu?
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Niver e Samba
Tinha cá pra mim
Que agora sim
Eu vivia enfim
O grande amor
Mentira
Me atirei assim
De trampolim
Fui até o fim um amador
Passava um verão
A água e pão
Dava o meu quinhão
Pro grande amor
Mentira
Eu botava a mão
No fogo então
Com meu coração de fiador
Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira
Fui muito fiel
Comprei anel
Botei no papel
O grande amor
Mentira
Reservei hotel
Sarapatel
E lua de mel
Em Salvador
Fui rezar na Sé
Pra São José
Que eu levava fé
No grande amor
Mentira
Fiz promessa até
Pra Oxumaré
De subir a pé o Redentor
Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira...
(Samba do Grande Amor - Chico Buarque)
terça-feira, 15 de junho de 2010
O Violão

Um dia eu vi numa estrada
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Frida
Algum tempo atrás, talvez uns dias, eu era uma moça caminhando por um mundo de cores, com formas claras e tangíveis. Tudo era misterioso e havia algo oculto; adivinhar-lhe a natureza era um jogo para mim. Se você soubesse como é terrível obter o conhecimento de repente - como um relâmpago iluminado a Terra! Agora, vivo num planeta dolorido, transparente como gelo. É como se houvesse aprendido tudo de uma vez, numa questão de segundos. Minhas amigas e colegas tornaram-se mulheres lentamente. Eu envelheci em instantes e agora tudo está embotado e plano. Sei que não há nada escondido; se houvesse, eu veria.
(Frida Kahlo)
quarta-feira, 9 de junho de 2010
domingo, 6 de junho de 2010
40 anos

São 40 anos de aventuras
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Amigos

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?
Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?
(A Lista - Oswaldo Montenegro)
sábado, 29 de maio de 2010
Súplica
O corpo a morte leva
A morte benze o espírito
Vem a mim, ó música!
terça-feira, 25 de maio de 2010
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Veríssimo

2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.
3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.
4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.
(Luís Fernando Veríssimo)
terça-feira, 11 de maio de 2010
A Mais Bonita!
Não, solidão, hoje não quero me retocar
Bonita
domingo, 2 de maio de 2010
Um novo amor chegou

Um novo amor chegou
Azulando meu peito na barra do dia
Dissolvendo o sereno da melancolia
Reabrindo o botão milagroso da flor
Um novo amor chegou
Enchugando meu pranto no vento da tarde
Carregando a lembrança, a tristeza, a saudade
Apagando em minh'alma o vestígio da dor
Um novo amor chegou
Acendendo meu corpo na boca da noite
Perfumando meu ventre na água da fonte
Clareando em meus olhos a luz e a cor
Um novo amor chegou
Me levando em silêncio pela madrugada
Eu só quero seguir seu caminho na estrada
E dormir na morada do meu novo amor
Um novo amor chegou, iluminou
Como o clarão da aurora
Beijou meu coração, adormeceu
E não vai mais embora...
(Wilson das Neves/Paulo César Pinheiro)
PS.: foto do site www.zerenato.com.br , grande intérprete que lindamente gravou essa música.
quarta-feira, 28 de abril de 2010
Citações - Oscar Wilde

O número dos que nos invejam confirma as nossas capacidades.
terça-feira, 20 de abril de 2010
A Moça do Sonho
Súbito me encantou
A moça em contraluz
Arrisquei perguntar: quem és?
Mas fraquejou a voz
Sem jeito eu lhe pegava as mãos
Como quem desatasse um nó
Soprei seu rosto sem pensar
E o rosto se desfez em pó
Por encanto voltou
Cantando a meia voz
Súbito perguntei: quem és?
Mas oscilou a luz
Fugia devagar de mim
E quando a segurei, gemeu
O seu vestido se partiu
E o rosto já não era o seu
Há de haver algum lugar
Um confuso casarão
Onde os sonhos serão reais
E a vida não
Por ali reinaria meu bem
Com seus risos, seus ais, sua tez
E uma cama onde à noite
Sonhasse comigo
Talvez
Um lugar deve existir
Uma espécie de bazar
Onde os sonhos extraviados
Vão parar
Entre escadas que fogem dos pés
E relógios que rodam pra trás
Se eu pudesse encontrar meu amor
Não voltava
Jamais...
(Chico Buarque/Edu Lobo)
PS.: Para Rafael que encontrou a "Moça" de eu sonho ... Lígia!
segunda-feira, 19 de abril de 2010
Malandro não cai, nem escorrega ...

sábado, 27 de março de 2010
Amar muito quando é permitido
... Mas só muito mais tarde, como um estranho flash-back premonitório, no meio duma noite de possessões incompreensíveis, procurando sem achar uma peça de Charlie Parker pela casa repleta de feitiços ineficientes, recomporia passo a passo aquela véspera de São João em que tinha sido permitido tê-lo inteiramente entre um blues amargo e um poema de vanguarda.
Ou um doce blues iluminado e um soneto antigo.
De qualquer forma, poderia tê-lo amado muito.
E amar muito, quando é permitido, deveria modificar uma vida – reconheceu, compenetrado. Como uma ideologia, como uma geografia: palmilhar cada vez mais fundo todos os milímetros de outro corpo, e no território conquistado hastear uma bandeira.
Como quando, olhando para baixo, a deusa se compadece e verte uma fugidia gota do néctar de sua ânfora sobre nossas cabeças.
Mesmo que depois venha o tempo do sal, não do mel...
(Caio Fernando Abreu)
sábado, 20 de março de 2010
Poema da Saudade
Em alguma outra vida, devemos ter feito algo muito grave, para sentirmos tanta saudade...
Trancar o dedo numa porta doí.
Bater o queixo no chão doí.
Doí morder a língua, cólica doí, doí torcer o tornozelo.
Doí bater a cabeça na quina da mesa, cárie doí, pedras nos rins também doí.
Mas o que mais doí é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma brincadeira de infância.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade de nós mesmo, o tempo não perdoa.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se Ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ele para a trabalho, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar sem vê-lo, e ele sem vê-la, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o Amor de um acaba, ou torna-se menor no outro.
Sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Não saber se ele continua fungando num ambiente mais frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia.
Se aprendeu a entrar na internet, se aprendeu a ter calma no trânsito.
Se continua preferindo cerveja a uísque (e qual a cerveja)
Se continua sorrindo com aqueles olhos apertados , e que sorriso lindo.
Será que ele continua cantando aquelas mesmas musicas tão bem (ao menos eu admirava)?
Será que ele continua fumando e se continua adorando Mac Donald's?
Será que ele continua não amando os livros, e ela cada vez mais?
E continua não gostando de dar longas caminhadas, e ela não assistindo televisão?
Será que ele continua gostando de filmes de ação, e ela de chorar em comédias.
Será que ela continua lendo os livros que já leu?
Será que ele continua tossindo cada vez que fuma?
Saber é não saber mesmo!!!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais longos, não saber como encontrar
tarefas que lhe cessem o pensamento.
Não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ele está com outra, e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...
É não querer saber se ele está mais magro, se ele está mais belo.
Saudade é nunca mais saber de quem se Ama e ainda assim doer.
Saudade é isso que senti (e sinto) enquanto estive escrevendo e o que você (deveria)provavelmente estar sentido agora depois que acabou de ler.
Quem inventou a distância nunca sofreu a dor de uma saudade!
(Martha Medeiros)
quarta-feira, 3 de março de 2010
Flores
Rosa é flor feminina que se dá toda e tanto que para ela só resta alegria de se ter dado. Seu perfume é mistério doido. Quando profundamente aspirada toca no fundo íntimo do coração e deixa o interior do corpo inteiro perfumado. O modo de ela se abrir em mulher é belíssimo. As pétalas tem gosto bom na boca - é só experimentar. Mas a rosa não é it. É ela. As encarnadas são de grande sensualidade. As brancas são a paz do Deus. É muito raro encontrar na casa de flores rosa brancas. As amarelas são de um alarme alegre. As cores de rosas são em geral mais carnudas e tem a cor por excelência. As alaranjadas são produto de enxerto e são sexualmente atraentes.Preste atenção e é um favor: estou convidando você a mudar-se para um reino novo.Já o cravo tem uma agressividade que vem de certa irritação. São ásperas e arrebitadas as pontas de suas pétalas. O perfume do cravo é de algum modo mortal. Os cravos vermelhos berram em violenta beleza.Os brancos lembram o caixão de criança defunta: o cheiro então se torna pungente e a gente desvia a cabeça para o lado com horror. Como transplantar o cravo para a tela?O girassol é o grande filho do sol. Tanto que sabe virar sua enorme corola para o lado de quem o criou. Não importa se é pai ou mãe. Não sei. Será o girassol flor feminina ou masculina? Acho que é masculina.A violeta é introvertida e sua introspecção é profunda. Dizem que se esconde por modéstia. Não é. Esconde-se para poder captar o próprio segredo. Seu quase não perfume é glória abafada, mas exige da gente que o busque. Não grita nunca seu perfume. Violeta diz levezas que não se podem dizer.A sempre-viva é sempre morta. Sua secura tende à eternidade. O nome em grego quer dizer: sol de ouro.A margarida é florzinha alegre. É simples e à tona da pele .Só tem uma camada de pétalas. O centro é uma brincadeira infantil. A formosa orquídea é exquise e antipática. Não é expontânea. Requer redoma. Mas é mulher esplendorosa e isto não se pode negar. Também não se pode negar que é nobre porque é epífita. Epífitas nascem sobre outras plantas sem contudo tirar delas a nutrição. Estava mentindo quando disse que era antipática. Adoro orquídeas. Já nascem artificiais, já nascem arte.Tulipa só é tulipa na Holanda. Uma única tulipa simplesmente não é. Precisa de campo aberto para ser.Flor dos trigais só dá no meio do trigo. Na sua humildade tem a ousadia de aparecer em diversas formas e cores. A flor do trigal é bíblica. Nos presépios da Espanha não se separa os ramos de trigo. É um pequeno coração batendo. Mas angélica é perigosa. Tem perfume de capela. Traz êxtase. Lembra a hóstia. Muitos tem vontade de come-la e encher a boca com o intenso cheiro sagrado.O jasmim é dos namorados. Dá vontade de por reticências agora. Eles andam de mãos dadas, balançando os braços, e se dão beijos suaves ao quase som odorante do jardim.Estrelícia é masculina por excelência. Tem uma agressividade de amor e de sadio orgulho. Parece ter crista de galo e o seu canto. Só que não espera pela aurora.A violência de tua beleza.Dama-da-noite tem perfume de lua cheia. É fantasmagórica e um pouco assustadora e é para quem ama o perigo. Só sai de noite com seu cheiro tonteador.Dama-da-noite é silente.E também da esquina deserta e em trevas e dos jardins de casas de luzes apagadas e janelas fechadas.É perigosíssima: é um assobio no escuro, o que ninguém aguenta. Mas eu aguento porque amo o perigo. Quanto à suculenta flor de cáctus, é grande e cheirosa e de cor brilhante. É a vingança sumarenta que faz a planta desértica. É o explendor nascendo da esterilidade despótica.Estou com preguiça de falar da edelvais. É que se encontra à altura de três mil e quatrocentros metros de altitude. É branca e lanosa.Raramente alcançável: é a aspiração.Gerânio é flor de canteiro de janela.Encontra-se em São Paulo no bairro do Grajaú e na Suíça. Vitória-régia está no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Enorme até quase dois metros de diâmetro. Aquáticas, é de se morrer delas. Elas são o amazônico:o dinossauro das flores. Espalham grande tranquilidade.A um tempo majestosas e simples. E apesar de viverem no nível das águas elas dão sombras. Isto que estou te escrevendo é em latim:de natura florum. Depois te mostrarei o meu estudo já transformado em desenho linear.O crisântemo é de alegria profunda. Fala através da cor e do despenteado. É flor que descabeladamente controla a própria selvageria.Acho que vou ter que pedir licença para morrer. Mas não posso, é tarde demais. Ouvi o Pássaro de Fogo - e afoguei-me inteira.Tenho que interromper porque - eu não disse? Eu não disse que um dia ia me acontecer uma coisa? Pois aconteceu agora mesmo.
(Clarice Lispector)
sábado, 27 de fevereiro de 2010
Não entender

Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.
Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras.
Sinto que sou muito mais completa quando não entendo.
Não entender, do modo como falo, é um dom.
Não entender, mas não como um simples de espírito.
O bom é ser inteligente e não entender.
É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida.
É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice.
Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco.
Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.
(Clarice Lispector)
domingo, 21 de fevereiro de 2010
Existe um ser que mora dentro de mim ...
(Clarice Lispector In Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres)
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Primavera
domingo, 7 de fevereiro de 2010
Altos e Baixos
Foi, quem sabe, esse disco
Esse risco de sombra em teus cílios
Foi ou não meu poema no chão
Ou talvez nossos filhos
As sandálias de saltos tão altos
O relógio batendo, o sol posto, o relógio
As sandálias, e eu bantendo em teu rosto
E a queda dos saltos tão altos
Sobre os nossos filhos
Com um raio de sangue no chão
Do risco em teus cílios
Foram discos demais, desculpas demais
Já vão tarde essas tardes e mais tuas aulas
Meu táxi, whisky, Dietil, Dienpax
Ah, mas há que se louvar entre altos e baixos
O amor quando traz tanta vida
Que até prá morrer
leva tempo demais ...
(Sueli Costa/Aldir Blanc)