quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Flores de Amsterdã


Foto John Land



As mulheres mais lindas do mundo
E eu lembrando da minha
Como pode um amor ir mais fundo no meu coração?
Quanto mais uma loura me olhava
Eu mais, minha neguinha,
Te lembrava e dizia "D'ocê eu num largo mais não"
Mais levava tua foto apertada em meu peito praieiroMais inteiro me via e pra Santa fazia oração
Que quem guia, guiasse

Quem reza, rezasse
Quem fala, falasse
Ou cantasse com a voz cirandeira
Que quem toca, tocasse

Quem chora, chorasse
Quem cala, calasse
E ouvisse e eu soubesse alemão
Que um xodó lindo assim como o nosso

Fosse a vida inteira
Fosse além desse mundo de barro
Cabasse mais não
Crie filhos e forças e rumos

Parasse mais não
Fosse além desse mundo de barro
Quebrasse mais não
Flores de Amsterdã

Beijos de hortelã
Para minha neguinha
Tarde, noite e manhã
Corpo e mente sã
Para minha neguinha

(Lui Coimbra)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Amando Loucamente

Tela Amadeo Modigliani



Andei amando loucamente, como há muito tempo não acontecia. De repente a coisa começou a desacontecer. Bebi, chorei, ouvi Maria Bethânia, fumei demais, tive insônia e excesso de sono, falta de apetite e apetite em excesso, vaguei pelas madrugadas, escrevi poemas (juro). Agora está passando: um band-aid no coração, um sorriso nos lábios e tudo bem. Ou: que se há de fazer.


(Caio Fernando Abreu)

sábado, 18 de setembro de 2010

Aflição




Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)
Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel
Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.

(Hilda Hilst)

sábado, 11 de setembro de 2010

Vida dentro de nós

Foto: Baldomero Coelho

Esta alma, ou vida dentro de nós, sem opção concorda com a vida exterior.
Se alguém tiver a coragem de perguntá-la o que pensa, ela está sempre dizendo exatamente o oposto do que as outras pessoas dizem.


(Virginia Woolf)

sábado, 4 de setembro de 2010

Valsa das Primaveras (Lavalse de Lilas)



Não se perde a vida assim como você
Que não procura ao menos esquecer
E fica só sem mais pra o que viver
E um pouco pranto
Só por essas poucas páginas de dor
Você fechou o livro do amor
Se deu à morte e desacreditou
Mas enquanto houver a primavera e o amor
Não morrerá, não morrerá essa flor
Que enfeita o peito em festa dos que se amam
Veste a primavera, a primavera e vem
Fazer o amor, colher o amor também
Há quem procura, te procura e quer
Abrir em flor teu corpo de mulher

(Eddie Marnay /Michel Legrand /Eddie Barclay - versão: Taiguara)