terça-feira, 31 de maio de 2011

Tô de bem!


‎Tô me afastando de tudo que me atrasa, me engana, me segura e me retém.
Tô me aproximando de tudo que me faz completo, me faz feliz e que me quer bem.
Tô aproveitando tudo de bom que essa nossa vida tem.
Tô me dedicando de verdade pra agradar um outro alguém.
Tô trazendo pra perto de mim quem eu gosto e quem gosta de mim também.
Ultimamente eu só tô querendo ver o ‘bom’ que todo mundo tem.
Relaxa, respira, se irritar é bom pra quem?
Supera, suporta, entenda: isento de problemas eu não conheço ninguém.
Queira viver, viver melhor, viver sorrindo e até os cem.
Tô feliz, tô despreocupado, com a vida eu tô de bem.

(Caio F Abreu)

sábado, 28 de maio de 2011

A gente sempre volta!



Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar.
Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor até que venha a próxima, normais que somos.


(Martha Medeiros)

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Em que espelho ficou minha face?



Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
... eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?

(Cecília Meireles)

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Primeiro capítulo



Dessa vez não vou evitar dizer o que está na minha cabeça só porque eu sei que minha mente geminiana vai negar no dia seguinte, não fugirei de palavras bonitas porque quem diz não é uma pessoa perfeita, não arrumarei mil defeitos pra brigar contra as novecentas e noventa e nove qualidades, não desviarei meus olhos por medo de ter minha mente lida, não sumirei por medo de desaparecer, não vou ferir por medo de machucar, não serei chata por medo de você me achar legal, não vou desistir antes de começar, não vou evitar minha excentricidade, não vou me anular por sentir demais e logo depois não sentir nada, não vou me esconder em personagens, não vou contar minha vida inteira em busca de ter realmente uma vida. Dessa vez não vou querer tudo de uma vez, porque sempre acabo ficando sem nada no final. Estou apostando minhas fichas em você e saiba que eu não sou de fazer isso. Mas estou neste momento frágil que não quer acabar. Fiquei menos cafajeste, menos racional, menos eu. E estou aproveitando pra tentar levar algo adiante. Relacionamentos que não saem da primeira página já me esgotaram, decorei o prólogo e estou pronta pro primeiro capítulo.

(Caio F Abreu)

terça-feira, 24 de maio de 2011

Exausto



Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhara leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vidafoi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.


(Adélia Prado)

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Poetas Velhos

Foto Blog Paulo Leminski



Bom dia, poetas velhos.
Me deixem na boca
o gosto dos versos
mais fortes que não farei.
Dia vai vir que os saiba
tão bem que vos cite
como quem tê-los
um tanto feito também,
acredite.



(Paulo Leminski)

quinta-feira, 12 de maio de 2011

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Som



Nenhum som me importa afora o som do teu nome que eu adoro.
E não me lançarei no abismo,
e não beberei veneno,
e não poderei apertar na têmpora o gatilho.
Afora o teu olhar
nenhuma lâmina me atrai com seu brilho.

(Vladimir Maiakóvski)

sábado, 7 de maio de 2011

Anais Nin


Um homem jamais pode entender o tipo de solidão que uma mulher experimenta. Um homem se deita sobre o útero da mulher apenas para se fortalecer, ele se nutre desta fusão, se ergue e vai ao mundo, a seu trabalho, a sua batalha, sua arte.
Ele não é solitário.
Ele é ocupado.
A memória de nadar no líquido aminótico lhe dá energia, completude.
A mulher pode ser ocupada também, mas ela se sente vazia.
Sensualidade para ela não é apenas uma onda de prazer em que ela se banhou, uma carga elétrica de prazer no contato com outra.
Quando o homem se deita sobre o útero dela, ela é preenchida, cada ato de amor, ter o homem dentro dela, um ato de nascer e renascer, carregar uma criança e carregar um homem.
Toda vez que o homem deita em seu útero se renova no desejo de agir, de ser.
Mas para uma mulher, o climax não é o nascimento, mas o momento em que o homem descansa dentro dela.

(Anais Nin)

quinta-feira, 5 de maio de 2011

A carne é triste



A carne é triste depois da felação
Depois do sessenta e nove a carne é triste.
É areia, o prazer?
Não há mais nada
Após esse tremor?
Só esperar
Outra convulsão, outro prazer
tão fundo na aparência
mas tão rasona eletricidade do minuto?
Já dilui o orgasmo na lembrança
E gosma
escorre lentamente de tua vida.

(Carlos Drummond de Andrade)

quarta-feira, 4 de maio de 2011

John Lee Hooker, Stevie Ray Vaughan, Robert Cray, Roy Rogers — Boogie Ja...




Música me cura de tudo ... algumas partes de mim ... somente o Blues!

terça-feira, 3 de maio de 2011

Desejos


Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo.
E que descanso me dás
Depois das lidas.
Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.

(Hilda Hist)

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Infinito


Tô perdido por alguém
Não consigo ver nada além
Do que eu digo nada sei
Compreender o amor
Não é de hoje
Já vai longe
E nem sinal
Hoje
Estou longe
Preso a você
Livre na prisão
Sem castigo
Faz chorar
Distraído rói devagar
É pedindo que Deus dá
Por falar no amor
Acho que vou buscar
Viver por você
Ou me acabar
Quem mandou me acorrentar
Fazer-me refém
Nas grades do amor
Te vejo lá no luar
Te espero lá do sol.

(Djavan)

domingo, 1 de maio de 2011

Cólera




Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio.
Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do Zodíaco.


(Memórias de Minhas Putas Tristes - Gabriel García Márquez)