quarta-feira, 27 de julho de 2011

Enredo



Tem um enredo nas nossas coisas, que eu não identifico, porque sempre emburreço quando, é você o tema. Olho, pela janela do apartamento, cuspo nos carros, sou um transgressor de gabinete, nenhuma teoria se verifica, quando é contigo. Acho que você me desgoverna e me impõe uma desobediência passional tamanha, que eu renuncio e me auto-mutilo em relação às minhas vontades.

Te encontrar nua me irrita, pois me livra de uma tarefa que me atribuo sempre. Não quero o som de Nana abafado pelos meus gritos, quero mais Piazzola e bandoneons à meia-luz. Não quero flores, quero odores, perfumes. As flores deixo para as fotografias.
Eu quero poder rir quando você errar a receita do bolo e fabricar um pastucci, que eu comerei com cara de tonto. Eu quero fingir que aquela poesia do Chico é minha e perceber na leitura dos teus hormônios o efeito. Eu quero ir embora, só prá você se por à frente e me chamar para ver a lua ou me mostrar no youtube, uma cantora nova que eu vou gostar muito. E eu, provavelmente gostarei pela indicação da tua voz. Que no cantarolar, já me convence.
Eu mapeei teu corpo e estou pronto para qualquer prova. Te conheço palmo a palmo ou por regiões, com toda e qualquer característica pagã. Eu, disse na terapia de grupo, que eu sei mais de você do que de mim, e propus abordar você prá distribuir minha tese.
O Amor dói, quando queremos tratar da longevidade, até porque ele existe para ser consumido até que se esgote ou se renove o tempo de validade. O que passar daí é costume.O que passar daí, é saudade, que ataca em hora errada e reacende o fogo com paixão.
Quando nós não formos mais que a nossa insanidade, o racional nos cobrará coisas que provavelmente,não daremos a mínima. Então, enquanto os parâmetros forem outros e o ridículo não estiver em questão, que tal de novo aquele som do Wando. E a letra a gente já canta de cor...
A lua nos reprime por querer decodificar seus encantos, em vez de aproveitar o luar, que é dos namorados. Ah, deixa a lua para os poetas, que o amor se estica até que o elástico do destino nos alcance e nos ponha cara-a-cara com a continuidade. Ou não.
(João Barboza)

sábado, 16 de julho de 2011

Fecha os olhos e confessa


Fecha os olhos e confessa que não consegue me esquecer nem quando está de olhos vendados. Eu tenho o direito de passear pelos teus olhos, roçar a pele dos teus lábios, provar o desenho da fibra da tua língua, sussurrar em teu ouvido. Eu invado e mesmo onde não me é permitido, entro.E me instalo. E quem quiser que reclame no sentimental, tenho todas as permissões assinadas pela tua pele. Na tua paixão, tem o meu olho em qualquer situação. Se quiser me submeter a exames, estou pronto.
(João Barboza)

sábado, 9 de julho de 2011

Edredom faz bem


A noite é fria, essa dama se deita
E se deleita envolta no edredom
Mesmo com frio lá fora fustigando
Ela transpira, tem um sonho bom,
Sonho daqueles de sonhar com anjo
Que toque banjo, baixo ou violão
E que a enleve e leve até a Lua
Arfante, nua e entregue de paixão
O Sol faz com que ela se recobre,
Deusa de cobre, estátua de prazer,
E acorde satisfeita e renascida
Ganhando vida e fazendo viver
O anjo que pensa em quando ela dorme
E se transforma e transpira também,
Saliva, arfa, pulsa e cai gemendo
Feliz, dizendo: “Edredom faz bem...”





(Ayrton Mugnaini Jr.)

domingo, 3 de julho de 2011

Feito pra acabar


Quem me diz
Da estrada que não cabe onde termina
Da luz que cega quando te ilumina
Da pergunta que emudece o coração
Quantas são
As dores e alegrias de uma vida
Jogadas na explosão de tantas vidas
Vezes tudo que não cabe no querer
Vai saber
Se olhando bem no rosto do impossível
O véu, o vento o alvo invisível
Se desvenda o que nos une ainda assim
A gente é feito pra acabar
A gente é feito pra dizer
Que sim
A gente é feito pra caber
No mar
E isso nunca vai ter fim


(José Miguel Wisnik/Marcelo Jeneci/Paulo Neves)

sábado, 2 de julho de 2011

Ninfa


Sou uma ninfa
estas ruas da cidade
ou jardins dos bairros
são estranhos para mim.
Vivo num mundo de sonhos
percorrendo bosques encantados
onde diáfanas e etéreas mulheres
entoam cânticos de amor
fascinadas pela emoção de amar!
Amar inconsequentemente
numa insensatez sem pecado!
E entre as flores
que formaram o buque
de imagens místicas
predominou de repente a liliácea!
A ela entoarei
minhas últimas preces para que se extasie,
infinitamente!

(Cassandra Rios)