
No dia em que eu estiver no meu leito de morte
Faísca que se apagou ...
Acaricia ainda uma vez meus cabelos
Com tua mão bem-amada
Antes que devolvam à terra
O que deve voltar à terra,
Pousa sobre minha boca que amaste
Ainda um beijo.
Mas não esqueças: no esquife estrangeiro
Eu só repouso em aparência
Porque em ti minha vida se refugiou
E agora sou toda tua (Hino à morte)
Quem pois, dominado por ti, poderá escapar,
Se sentiu teu grave olhar voltado para ele?
Eu não fugirei, se me apanhas
Jamais crerei que só fazes destruir!
Entretanto - tu também, mereces ser vivida!
Claro, não és um espectro da noite
Vens lembrar tua força ao espírito:
É o combate que engrandece os maiores,
O combate como derradeiro alvo, por caminhos
Por isso, se só podes me ofertar, ó dor,
Em lugar de felicidade e do prazer, a verdadeira grandeza,
Vem lutar comigo, num corpo a corpo,
Vem lutar comigo, na vida e na morte
Mergulha no fundo do coração,
Mergulha no mais profundo da vida,
Leva para longe o sonho da felicidade e da ilusão
Leva para longe o que não merecia um infindo esforço.
Nunca triunfará verdadeiramente sobre o homem autêntico
Mesmo que ele te ofereça teu peito nu
Mesmo que se aniquilasse, desaparecesse na noite!
És apenas um pedestal para a grandeza do espírito!
(Lou Salomé)